O papel da mulher advogada na soc
Entrevista com Susana Lóres Marum, Advogada e CEO da Vanguard Lawyers
"Liderar no Setor Jurídico, especialmente como mulher, é uma grande responsabilidade."
No setor jurídico, historicamente marcado por estruturas conservadoras e lideranças predominantemente masculinas, tem-se assistido a uma mudança significativa: o fortalecimento e ascensão das mulheres na advocacia. Nesta entrevista, da Businessvoice, Susana Lóres Marum, advogada e CEO da Vanguard Lawyers, partilhou a sua visão sobre o papel da mulher advogada na sociedade, os desafios da liderança feminina e o caminho para uma advocacia mais humana, inclusiva e moderna. Uma conversa inspiradora com quem acredita, vive e constrói diariamente uma nova forma de estar no Direito.
Susana Lóres Marum, Advogada e CEO da Vanguard Lawyers, é uma Mulher que se enquadra perfeitamente naquela lógica de «nasceu para fazer a diferença», tendo edificado o seu próprio escritório aos 33 anos de idade, e com um único desiderato, ou seja, “criar um espaço mais humano e próximo da advocacia que acredito”. Conheça mais da nossa interlocutora e dos desafios que foi ultrapassando ao longo do seu trajeto no universo da advocacia.
No sentido de contextualizar o nosso leitor, começo por lhe pedir para partilhar um pouco do seu percurso profissional. Que marcos são para si mais simbólicos e quais os desafios que, ao longo do seu trajeto, teve de enfrentar?
Sou de Loulé, e filha única, e talvez por isso, desde cedo, aprendi a valorizar o silêncio e as relações próximas. Aos 17 anos, deixei a casa dos meus pais e fui viver sozinha para Lisboa, a capital do país, uma cidade vibrante e imensa, que na altura me pareceu quase esmagadora. Levei comigo a coragem de quem quer muito e a ingenuidade de quem ainda não sabe bem o que espera. Fui estudar Direito para a FDL, um dos cursos mais exigentes do país, numa das faculdades mais tradicionais e rigorosas.
Sempre fui a mais nova em todas as turmas que frequentei, o que me obrigou, desde cedo, a crescer depressa, emocional e intelectualmente, porque “ficar para trás” não era uma opção para mim. A distância da família e a pressão de estar à altura fizeram-me crescer rápido. Trabalhei desde cedo em escritórios de advogados e logo percebi que a realidade da profissão é muito diferente da imagem romantizada do que é ser advogado, moldada por filmes e séries onde tudo parece glamoroso, onde os discursos são sempre inspiradores e os casos se resolvem com reviravoltas brilhantes em tribunal.
A realidade é bem diferente. Há um lado exigente, técnico e até rotineiro da profissão que raramente é mostrado. Os dias são longos, a pressão é constante, e a competição é enorme. Não há espaço para distrações. É preciso estar sempre um passo à frente, ser rigoroso, e saber lidar com um ambiente onde muitos querem chegar ao topo e poucos param para ajudar quem está a começar. No início, há muito que não se sabe, e quase tudo se aprende “à força”, errando, corrigindo, perguntando, observando. A exigência é imensa, e a margem de erro, muito pequena. Mas foi nesse ambiente desafiante que aprendi algumas das lições mais importantes da minha carreira: resiliência, atenção ao detalhe, e a importância de manter a calma quando tudo à volta parece urgente.
Aos 33 anos, abri o meu próprio escritório, com dois amigos, com o objetivo de criar um espaço mais humano e próximo da advocacia que acredito. O caminho não é fácil, mas é gratificante e reflete os meus valores.
A Susana Lóres Marum é Advogada e CEO da Vanguard Lawyers, uma marca de enorme relevo e bastante conceituada na praça pública. Fale-nos um pouco do crescimento da marca e como é que descreve o seu papel no seio da marca?
A Vanguard Lawyers nasceu de um sonho e tem crescido com muito trabalho e uma equipa incrível. Como advogada principal e CEO, o meu papel vai além da gestão, sendo também um pilar de apoio para a equipa. Acredito numa liderança próxima, humana e disponível. A Vanguard destaca-se por ser inovadora e real, e a nossa ambição é ser uma referência da nova advocacia, moderna e adaptada ao mundo atual. O sucesso do escritório é coletivo, com valores e energia que nos unem e nos fazem crescer constantemente.
Esta sua função traz consigo uma liderança acrescida. Como líder feminina no setor do Direito, que valores ou princípios norteiam a sua abordagem ao liderar uma equipa ou gerir operações dentro da Vanguard Lawyers?
Liderar no setor jurídico, especialmente como mulher, é uma grande responsabilidade. Acredito numa liderança empática, colaborativa e humana, baseada em integridade, respeito e autenticidade. Ao longo da minha trajetória, enfrentei desafios de estereótipos de género, mas vejo a sensibilidade feminina como uma força. Tento liderar pelo exemplo, com comunicação aberta e transparente, e valorizando a individualidade e o crescimento da minha equipa. Acredito que uma boa líder não se impõe pela força, mas pela ação.
" A presença equilibrada de homens e mulheres melhora a capacidade de resposta às necessidades dos clientes e cria ambientes de trabalho mais colaborativos. A diversidade de perspectivas também inspira novas gerações, promovendo uma cultura organizacional mais inclusiva e alinhada com valores éticos. "

Na atualidade, começamos a ver cada vez mais mulheres em posições de liderança no setor do Direito. Para si, que análise perpetua deste crescimento feminino no setor e o que é necessário continuar a fazer para que este cenário seja ainda mais equilibrado na presença de Homens e Mulheres no setor?
A presença feminina no Direito está a crescer, mas ainda há muitos obstáculos, especialmente em cargos de liderança. As mulheres são maioria nas faculdades e no início da carreira, mas a ascensão a cargos de decisão ainda é limitada. A mudança está em curso, e é essencial continuar a abrir espaço para que as mulheres possam liderar sem ter de se adaptar a modelos masculinos. Acredito que a estrutura do setor está lentamente a reconhecer o valor feminino e a criar mais oportunidades.
A presença feminina nas posições de liderança tem vindo a aumentar, mas ainda existem desafios. Quais acredita que são as principais barreiras para as mulheres no setor do Direito e como podemos superá-las?
O caminho para a liderança feminina no Direito ainda enfrenta barreiras, como o preconceito estrutural e a conciliação entre a vida pessoal e profissional. As mulheres muitas vezes sentem a pressão de escolher entre carreira e vida familiar. O setor jurídico precisa de mais flexibilidade e modelos de trabalho mais inclusivos. Além disso, a visibilidade de modelos femininos de liderança autêntica é crucial para inspirar futuras gerações. Precisamos de mais exemplos de mulheres que liderem com autenticidade, sem se moldar a estereótipos.
Na sua opinião, como é que a diversidade de género pode impactar positivamente o setor jurídico, tanto em termos de resultados quanto de cultura organizacional?
A diversidade de género no Direito traz benefícios reais, como abordagens mais criativas e soluções mais completas. A presença equilibrada de homens e mulheres melhora a capacidade de resposta às necessidades dos clientes e cria ambientes de trabalho mais colaborativos. A diversidade de perspectivas também inspira novas gerações, promovendo uma cultura organizacional mais inclusiva e alinhada com valores éticos. Na Vanguard, a diversidade é um dos pilares do nosso crescimento e sucesso.
Quais conselhos daria a jovens mulheres que estão a começar a sua carreira no Direito e que aspiram a ocupar posições de liderança?
Para as jovens mulheres que começam a carreira no Direito, o conselho é acreditar em si mesmas. Haverá momentos de dúvida e obstáculos, mas o talento e a perseverança fazem a diferença. É importante trabalhar com ética e manter a autenticidade, sem se moldar a estereótipos. Procurem mentores e sejam mentoras quando possível. O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional também é essencial para o sucesso. Liderar não é chegar sozinha ao topo, mas levar os outros contigo, criando um ambiente de apoio e colaboração.
A legislação e as políticas de igualdade de género estão a evoluir, mas em que pontos precisamos de melhorar?
Embora tenhamos avanços na legislação e nas políticas de igualdade de género, a transição para a realidade prática ainda enfrenta desafios. A discriminação subtil, desigualdade salarial e a falta de progresso na carreira continuam a ser problemas. Precisamos de políticas de parentalidade que incentivem a divisão igual de responsabilidades. Além disso, é essencial educar desde cedo para a igualdade e garantir transparência nos critérios de progressão no setor jurídico, promovendo a igualdade real de oportunidades.
Que mensagem lhe aprazaria deixar a todas as Mulheres presentes no setor do Direito e que, diariamente, vivem e convivem com diversos desafios e dificuldades simplesmente porque são Mulheres?
A todas as mulheres no Direito, quero deixar uma mensagem de força e respeito. Sei que enfrentam desafios invisíveis e precisam trabalhar o dobro para serem reconhecidas. Mas vocês são extraordinárias. A forma de liderar, com empatia, visão e integridade, é o futuro da advocacia. Nunca deixem que digam que são “demasiado isto” ou “não o suficiente daquilo”. Sejam fiéis aos seus valores e apoiem-se umas às outras. Estamos a construir uma nova página no Direito, mais justa e humana, e ela está a ser escrita por mulheres como vocês.